Um sonho de cidade
Pesadelos podem virar sonhos. Basta imaginar. O futuro torna tudo possível - e uma utopia bem desenhada costuma fazer bem, não?
Foto: Nuno Luciano A vila de Houtouwan, na China, foi retomada pela natureza apenas 20 anos depois de ser abandonada.
Sonho com um futuro grandioso. Nele, o cimento se quebrará com a força das sementes e árvores e arbustos tomarão conta das calçadas, que passarão a ser gramados, hortas, florestas. Os rios que foram enterrados serão redescobertos e, limpos servirão para banho, esporte ou simplesmente para meditar.
Quando o metrô da linha vermelha chegar à superfície, os jardins lá embaixo estarão absolutamente limpos, cheios de pessoas passeando. O fluxo barulhento de carros, ônibus e caminhões desapareceu – é uma revolução chamada carro elétrico. Graças a eles, podemos escutar os passarinhos que voltaram à nossa cidade, a maior da América Latina.
Os edifícios antigos, que antes estavam abandonados, caindo aos pedaços, ou serviam de estacionamento, agora restaurados servem de moradia – com quintais comunitários, muitas vezes abertos para a rua, hortas e pequenos comércios, como restaurantes e lojinhas.
Do outro lado, o velho bairro do Brás continua marcado pelos galpões – que agora estão cobertos, todos com placas de energia solar, nossa maior fonte de energia. Além disso, uma lei garantiu que não subiriam mais prédios enormes. Os velhos galpões, devidamente redesenhados e transformados em lofts, se tornaram casas confortáveis para diversas famílias.
E as calçadas gramadas de lá foram plantadas com pitangueiras, amoreiras, mangueiras... um verdadeiro pomar refrescante, que fornece, de tempos em tempos, comida tanto para os moradores, como para visitantes e passarinhos.
Nesse futuro sonhado, a cidade de São Paulo não é mais dominada por uma cúpula cinza. A garoa voltou, apesar das temperaturas mais altas do planeta, graças à política de reflorestamento e integração, as árvores seguem chamando chuvas.
Na megalópole verde, metrôs de superfície, ônibus e outros modais de transporte coletivo atingem todos os cantos – ninguém mais precisa ter um carro próprio para ir ao trabalho, ao cinema, ao parque. Carros existem, claro, mas são muito menos usados. E, sim, os congestionamentos continuam a existir – a diferença é que agora são silenciosos.
Os cidadãos de São Paulo aprenderam a cuidar do seu lixo, reciclar, encaminhar cada coisa para o lugar certo. Finalmente a Política de Resíduos Sólidos foi levada a sério e começou a funcionar. Claro que a logística reversa ainda não está 100%. Mas a coleta seletiva está em todo canto, há composteiras públicas nas praças e parques e os Ecopontos, antigamente ilhas de cimento, foram transformados em jardins de chuva onde a gente pode entregar os resíduos de pequenas reformas, móveis e outros produtos que não cabem na coleta seletiva.
Graças à tomada de consciência dos seus cidadãos, aos poucos, as favelas foram urbanizadas, abrindo lugar para moradias simples e ecológicas. Igualzinho nos bairros ricos – noves fora o salário, que continua pequenino.
Este texto faz parte do Literoutubro #03 - disutópicos
disutópicos: afim de explorar ideias de sociedades perfeitas ou falhas, e as tensões entre o desejo de utopia e a realidade de distopias. Queremos provocar o pensamento, imaginar outros possíveis e escrever, quem sabe, outros destinos.
Meu Deus, que lindeza. Cheguei a ver Turim.
Ah *suspiros* que sonho lindo, lindo. Quem sabe um dia. <3